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Papa Bento XVI justifica sua saída e pede orações pelo futuro pontífice

Diante de uma multidão estimada em 100 mil fiéis, o papa Bento XVI realizou uma audiência de despedida na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Ao começar a mensagem em italiano, Bento XVI contou que, há oito anos, quando aceitou a escolha dos cardeais para ser Papa, orou a Deus:

— Senhor por que me pedes isso e o que me pede? É um peso grande que carrego nos ombros, mas aceitarei certo de que me guiará, apesar de todas as minhas fraquezas. Oito anos depois, posso dizer que o senhor de fato me guiou.

Bento XVI agradeceu a seus colaboradores, iniciando pelo secretário de Estado, Tarcísio Bertone.

— Eu nunca me senti sozinho. O senhor me colocou ao lado de tantas pessoas que, com generosidade, me ajudaram e me foram próximas (…) — Não abandono a cruz, mas permaneço de maneira nova, perto do Senhor.

Pediu orações aos cardeais que escolherão o novo sucessor e, também, ao futuro Papa.

Bento XVI mencionou “as águas agitadas” que marcaram os oito anos de seu pontificado e advertiu que “Deus não deixará que a Igreja afunde”.

— Estou realmente emocionado e vejo uma Igreja viva — disse o Papa, ovacionado pela multidão.

Pelas “águas agitadas”, entende-se sucessivos escândalos. Em um dos episódios, que ficou conhecido como VatiLeaks, documentos restritos ao Vaticano foram vazados revelando jogo de intrigas e corrupção.

Ao finalizar o discurso em italiano, passou a ler novamente o texto, porém dividido em várias línguas.

Faixas de agradecimento e personalidades de todos os continentes para homenagear o primeiro pontífice que renuncia em sete séculos.

Após a leitura da mensagem, o Papa rezou o Pai Nosso em Latim, acompanhado da multidão, que recebeu o texto. Ao fim, sorriu e acenou, antes de entrar novamente ao Papamóvel.

Bento chegou em pé, no papamóvel, saudando os fiéis que lotam a praça. A multidão inclui muitos cardeais, bispos e personalidades, aguardam a última bênção de quarta-feira, a de número 348 de seu pontificado, iniciado em abril de 2005.

O alemão Joseph Ratzinger, seu nome civil, de 85 anos, causou espanto ao anunciar a renúncia, em 11 de fevereiro, alegando falta de “forças para seguir adiante de uma igreja de 1,2 bilhão de fiéis, que enfrentou umas série de escândalos nos últimos anos.

Depois da cerimônia, acontecerá uma breve audiência na Sala Clementina, com algumas personalidades.

O pontífice, que passará a ser chamado “Papa emérito”, deixará na quinta-feira o Vaticano sem uma cerimônia especial em um helicóptero, que o levará à residência de veraneio de Castelgandolfo, a 25 quilômetros de Roma, onde viverá temporariamente antes de mudar-se para um mosteiro.

Veja o trecho da mensagem de despedida lida em português por Bento XVI:

Queridos irmãos e irmãs,

No dia dezanove de Abril de dois mil e cinco, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: “É um peso grande que colocais aos meus ombros! Mas, se mo pedis, confiado na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis”. E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. Entretanto não é só a Deus que quero agradecer neste momento.

Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram. Porém, sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito.

Zero Hora

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