89,9 FM
SINTONIZE
(48) 3464-3364
LIGUE
(48) 99630-6000
MANDE WHATSAPP

‘Nunca abreviei vida de ninguém’, diz acusada de acelerar mortes em UTI

A médica Virgínia Helena Soares de Souza, acusada de acelerar mortes de pacientes de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, em Curitiba, disse em entrevista exclusiva ao Fantástico que acredita que a população brasileira a vê como um “demônio”. Ela negou as acusações e disse que consultava a equipe médica antes de decidir como agir nos casos de pacientes terminais. “Inocente ou culpado, depende de você agir errado e com má fé. Eu exerci a medicina”, disse a médica.

Virgínia Soares de Souza foi presa em 19 de fevereiro deste ano. Ela, três médicos e duas enfermeiras foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio e formação de quadrilha. Outros dois ex-funcionários do hospital também são réus. Eles respondem apenas por formação de quadrilha. O processo tem como base uma investigação do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa). Segundo a acusação, os pacientes foram mortos por asfixia, com uso do medicamento Pavulon e diminuição de oxigênio no respirador artificial. A polícia e o Ministério Público investigam também mais de 300 mortes consideradas suspeitas na mesma UTI, entre 2006 e 2013.

“Eu nunca abreviei a vida de ninguém. Eu só exerci exatamente a medicina como ela tem que ser. Dentro da ética, com respeito ao local em que eu estava, com respeito aos médicos que trabalhavam comigo”, disse Virgínia.

Sete mortes fazem parte deste processo. Uma delas é a de Ivo Spitzner. Ele morreu em janeiro de 2012, aos 67 anos. De acordo com a acusação, ele foi internado com problemas de circulação no pé e precisou ser operado. Durante a cirurgia, o quadro clínico piorou e Ivo foi encaminhado para a UTI.

Já na unidade, o paciente teve uma parada cardíaca. O procedimento de reanimação durou cem minutos. No prontuário, há a informação de que, no dia da morte, o nível do respirador usado por Ivo foi reduzido ao mínimo. Em seguida, o paciente recebeu três medicamentos. Um deles foi o Pavulon, que paralisa os músculos, inclusive os da respiração. Ivo Spitzner morreu uma hora depois.
Questionada sobre o paciente, a médica Virgínia Soares de Souza afirmou que Ivo
já tinha uma doença vascular e que estava acamado desde 1996, com episódios de acidentes vasculares cerebrais. “Foi um quadro que não tinha mais retorno, não tanto pela sequela cerebral que ele já tinha, mas, certamente cem minutos de parada foram absurdos. Isso é um quadro sem retorno. Então, isso é definido com o cirurgião que participa, com todos que participam”, justificou a médica.
Mas Zenaide Spitzer, viúva de Ivo, tem outra versão. Segundo ela, fotografias tiradas em 2012 mostram ele aparentemente bem de saúde. “Ele nunca ficou na cama”, argumentou. A viúva também disse que, durante o período em que o marido estava internado, não foi consultada.

O médico cardiologista José Eduardo Siqueira, membro da Associação Internacional de Bioética, analisou o prontuário de Ivo e questionou o procedimento adotado. “Não há justificativa técnica para se usar o Pavulon, porque ele já está entubado.” De acordo com Siqueira, esta dinâmica pode levar à morte do paciente. O cardiologista explicou que o Pavulon deve ser ministrado antes de o respirador ser ligado ao doente, para facilitar a ação do equipamento.

Depois da denúncia contra a médica Virgínia Soares de Souza, foi aberta uma sindicância do Sistema Único de Saúde (SUS) e das secretarias municipal e estadual de Saúde. Auditores investigaram UTIs de oito hospitais de Curitiba. O relatório aponta que a UTI Geral do Hospital Evangélico é a única que contraria recomendações do Ministério da Saúde. Uma destas recomendações é a existência de orientações padronizadas de como agir, inclusive com a indicação de medicamentos para cada diagnóstico, uma espécie de protocolo que deve ser seguido dentro das unidades de terapia intensiva.

G1 PR

Comente!

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.