O público feminino tem sido cada vez mais visto em cursos técnicos como os de mecânica, eletrônica, eletromecânica e eletrotécnica. Nos últimos três anos o percentual de mulheres interessadas tem crescido significativamente.
Na instituição Satc, referência na formação de mão de obra técnica, as turmas do curso de eletrotécnica totalizam 26 mulheres. Conforme a orientadora educacional do ensino técnico da instituição, Albertina Veronez Lazzarin, desde a criação do curso nunca havia sido registrado um número tão elevado. “Não havia essa procura como vem ocorrendo agora. Somente na primeira fase são 13 meninas”, reforça Lazzarin.
O professor da disciplina de usinagem, Fernando Michelin Marques, diz que nos últimos quatro anos, em média, não havia 10% de mulheres em sala de aula. “Hoje podemos dizer que temos um percentual de até 30% de presença feminina”, destaca.
Entre as interessadas nestas áreas dominadas por homens está a estudante de 16 anos, Maria Laura Ronchi Toreti. Cursando eletromecânica ela conta que o interesse veio pelo pai. “Ele tem uma metalúrgica e como cresci neste meio me apaixonei pela área”, conta. Única mulher na turma de 15 alunos, Toreti diz que no começo estranhou um pouco, mas que depois se acostumou. “Eles me respeitam muito”, destaca a estudante, que pretende cursar faculdade de engenheira mecânica.
Sem apoio da família
A estudante de 17 anos, Franciele Bis Ferreira, que cursa eletrotécnica, não teve o apoio da mãe na escolha da profissão. “Meu pai é eletricista, mas mesmo assim minha mãe achou estranha esta escolha porque vislumbra somente a presença masculina nestas profissões”, comenta Ferreira.
Conforme a orientadora, as meninas equilibram a sala de aula e as disciplinas. Mas, o grande diferencial das mulheres nestes cursos têm sido as suas habilidades como delicadeza, calma, detalhismo, além de serem mais cuidadosas e dedicadas.
Transformações ao longo do tempo
O coordenador do Centro de Relacionamento com o Mercado da Satc, Renato Nascimento, explica que a indústria se transformou ao longo dos anos, passando a utilizar cada vez menos a força física e abrindo espaço para o campo feminino.
“A indústria hoje é muito automatizada o que iguala os dois sexos. Se a exigência da vaga não tiver o quesito força física, as empresas preferem as mulheres, pois possuem competências extras como maior concentração, atenção e visão ampla”, expõe Nascimento.
O número de mulheres que procura o Senai de Santa Catarina para fazer cursos de manutenção automotiva nos últimos anos também aumentou. Segundo dados do Senai, em 2010 havia 38 mulheres participando de cursos técnicos e de curta duração de mecânica de automóveis no estado, o que representava 1% do total de alunos. Em 2012, o número aumentou para 84 e o percentual de participação das mulheres subiu para 5%.
Pioneiras nos cursos de aprendizagem
Em 1975, a Escola Técnica da Satc teve o público feminino como pioneiro no ingresso do ensino fundamental e nos cursos técnicos como desenho mecânico, mineração e mecânica orientado para o desenho técnico. Eram cerca de dez meninas.
“Profissionais que se formam em cursos técnicos têm uma base maior quando vão cursar uma engenharia, estão mais bem preparados para a faculdade e para o mercado de trabalho”, declara a coordenadora geral do ensino médio e técnico da Satc, Maria da Graça Cabral.