A missionária Isaura Lima Lopes, 79 anos, está ‘morando’ no Aeroporto Santa Maria em Aracaju, Sergipe, desde o dia 5 de abril. Este será o endereço dela até o dia 25 deste mês quando voltará para Brasília, cidade que foi o ponto de partida para a peregrinação nos aeroportos do país em 1993.
Isaura começou a missão evangelizadora há 60 anos em ônibus urbanos e intermunicipais e em participação em programas de rádios de todo o país. Somente há 20 anos ela passou pregar noite e dia nos terminais aeroviários. “Recebi um chamado de Deus. Ele fala na minha mente e eu sei que é verdade porque sempre dá certo. Por isso, eu me tornei a velhinha mais feliz do mundo porque vivo em harmonia com Deus pai, filho e Espírito Santo”, afirma a idosa sorridente.
A missionária diz que a inspiração vem do céu. “Eu fico olhando para cima, conversando com o Senhor que geralmente me dá mais inspiração à noite. As pessoas que passam se interessam, conversam comigo e pedem orações. Espero ajudar muitas almas a se salvarem ao trazê-las para mais próximo de Cristo”, conta.
A entrevista foi feita através das perguntas escritas no papel, pois aos 38 anos a missionária começou a perder a audição. “Não me conformava com isso, eu chorava e clamava a Deus para não me deixar surda, mas um dia o senhor me explicou que os sons da terra estão muito desafinados com os sons celestiais e que por isso seria melhor que eu não os ouvisse. Aprendi a gostar de ouvir o silêncio”, lembra.
Rotina
Nos bancos pouco confortáveis dos terminais aeroportuários, Isaura arruma um jeitinho de apoiar a cabeça sobre a Bíblia para dormir. A idade surpreende pela figura lúcida e aparentemente saudável que ela é. Mesmo sem ir ao médico ou tomar remédios há 36 anos, a idosa disse que não tem problemas de saúde e que não se lembra da última vez que ficou resfriada. O segredo para isso, segundo ela, é alimentar-se bem e caminhar – Isaura tem passos firmes e rápidos.
“Passei 20 anos sem comer nada de vida animal, mas hoje em dia como frango porque é difícil encontrar nos aeroportos alternativas para consumir as porções necessárias de proteína. É um sacrifício muito grande porque às vezes não sei quando será minha próxima refeição, mas Deus está sempre providenciando. Amo Deus”, afirma Isaura.
Quando o aeroporto não tem banheiro com chuveiro, o banho é improvisado em uma cabine com sanitário adaptado para deficientes físicos. Lá ela utiliza panos molhados para manter a higiene diária. Segundo Isaura, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) nunca impediu que ela ‘morasse’ nos aeroportos desde que ela não atrapalhasse o funcionamento desses locais.
Missão
A missionária nasceu em Goiana, município localizado no interior de Pernambuco, não casou nem teve filhos. Segundo ela, tudo em sua vida é resultado da vontade divina.
“Quem determinou meu destino foi Deus, porque eu me sinto um ninguém nos aeroportos. Mas é bom por estar fazendo a obra de Cristo. Eu tenho uma sede de salvação para mim e para o mundo, mas estou desapontada, pois as pessoas não querem nada com Deus”, lamenta a idosa. A decepção de Isaura é ainda maior quando ela lê os jornais com as notícias do Brasil e o do mundo.
Isaura não frequenta igrejas desde 1985 e só segue os ensinamentos da Bíblia sem representar nenhuma religião. “Há 28 anos Deus me apresentou a Assembleia Celestial. E assim como é descrito nos capítulos 4 e 5 livro Apocalipse lá é tudo lindo, acalentador. Tem milhões de anjos, 24 anciões e quatro representantes do reino animal. E é para lá que eu espero ir quando morrer”, revela.
Dificuldades
As missões nos aeroportos duram 20 dias e após esse prazo ela volta para Brasília onde mantém uma quitinete por R$ 200, paga R$ 50 de água e energia. Isaura ainda usa parte do dinheiro da aposentadoria de um salário mínimo para pagar três empréstimos bancários que ela fez para financiar as viagens.
“De setembro do ano passado para cá tenho recebido muita ajuda porque Deus percebeu que está cada vez mais difícil para mim. Os R$ 200 que resta daria para eu sobreviver se estivesse em casa, mas nos aeroportos é tudo muito caro. Aqui em Aracaju o pessoal da segurança tem me ajudado bastante. Eu não peço nada a ninguém, mas Deus toca o coração dessas pessoas e elas me ajudam trazendo lanches”, relata Isaura.
Depois de Aracaju, a missionária vai para Salvador (BA), Campinas (SP) e Porto Alegre (RS). “Vou continuar minhas andanças até quando o Senhor me conceder a graça para concluir a obra que Ele me atribuiu”, finaliza a mulher que se intitula como a velhinha mais feliz do mundo.