A Polícia Civil vai indiciar mais de cem suspeitos por participação na segunda onda de atentados a Santa Catarina. O inquérito policial, que será concluído nesta sexta-feira e foi obtido com exclusividade pelo Diário Catarinense, afirma que salvo raras exceções todos têm ligação com o Primeiro Grupo Catarinense (PGC).
O trabalho da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), que levou a esta extensa lista, teve como ponto de partida cartas de presos encontradas em celas durante revistas. O conteúdo revelava a hierarquia da facção e dezenas de números de celulares, incluindo o de advogados, e interceptações telefônicas trouxeram à tona as entranhas da organização criminosa.
A esta investigação foi juntado o conteúdo produzido pelo Grupo de Diligências Especiais da Deic durante os atentados de novembro do ano passado. A partir do primeiro ônibus queimado, o trabalho foi intensificado. Os policiais civis permaneceram na delegacia por 72 horas ininterruptas. O esforço chegou à conclusão óbvia de que o PGC foi o responsável pelas duas ondas de violência em Santa Catarina.
O resultado foi confirmado também em conversas das autoridades com presos dissidentes da organização criminosa — seis deles aceitaram prestar depoimento formal dentro do provimento 5, o programa de proteção a testemunhas de Santa Catarina. A participação da facção nos atos terroristas também ficou evidenciada em mensagens de texto que falam da compra de fuzis, metralhadoras, de ataques e encomenda de assassinatos de policiais.
A investigação da Deic revela ainda que o PGC tinha planos de mudar seu quartel general. A facção se firmou e se expandiu a partir da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, mas medidas da direção da unidade prisional, apreensões significativas de drogas, armas e as dificuldades de comunicação fizeram a organização criminosa pensar em se estabelecer em outra região. A escolha recaiu sobre Blumenau ou Itajaí, cidades que têm cadeias com considerável facilidade de entrada de celulares.
O trabalho da Polícia Civil também identificou os 1º e 2º ministérios, compostos por 10 integrantes cada, que tomam as decisões do PGC. Estes criminosos estão no grupo dos mais de cem indiciados pela Polícia Civil. O número é superior aos 97 mandados de prisão temporária expedidos em 16 de fevereiro. O volume aumentou porque, durante as investigações, foram encontradas provas contra mais pessoas. E em poucos casos não foi comprovado envolvimento com a quadrilha.
Com a entrega do relatório, haverá pedidos de conversão das prisões temporárias em preventivas. O restante, responderá em liberdade. A 3ª Vara Criminal de Blumenau deve se manifestar até a quarta-feira da próxima semana, data em que expiram as 97 temporárias. A entrega das investigações à Justiça não encerra o trabalho. Equipes de inteligência monitoram o surgimento de candidatos a novas lideranças pelo Estado. Uma lista de possíveis detentos, com dezenas de nomes, foi montada. Por isso, não estão descartadas novas transferências para o sistema penitenciário federal — vagas à disposição existem. Entre os crimes listados pela polícia estão formação de quadrilha, dano, incêndio, tráfico de drogas e associação para o tráfico.