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Filha de agricultores faz curso superior para voltar ao campo

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Joana concilia curso universitário com a vida no campo (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

A estudante de Agronomia Joana Bett, de 22 anos, cresceu em uma propriedade rural no interior do município de Lauro Müller, cidade de 14.367 mil habitantes no Sul de Santa Catarina que se destaca pela produção de carvão e agricultura. Os pais são produtores de leite e gado de corte e, quando chegou à adolescência, ela se deparou com o dilema: continuar na propriedade e ajudar os pais ou fazer uma faculdade?

Ela conta que os pais a deixaram livre para escolher, mas encontrou na agronomia uma alternativa para somar ao conhecimento e à experiência que a família acumulou ao longo dos anos e realizar o sonho de ter um diploma universitário. “Meus pais sempre me incentivaram a estudar, mas nunca me forçaram para que eu fizesse algo relacionado ao campo. Até cheguei a pensar em fazer jornalismo, pois gosto muito de escrever, mas gosto mais de lidar com o campo. Já tenho conhecimento prático, só que a faculdade faz a gente abrir os horizontes, ver realidades diferentes”, disse.

Para fazer o curso escolhido, precisou se mudar para Tubarão, que fica a 65 km de Lauro Müller.  Passa a semana ‘na cidade’, mas diz que espera com ansiedade para voltar à casa dos pais.

Ela diz que já perdeu a conta de quantos quilômetros fez entre a universidade e a residência da família, mas não pretende parar tão cedo de percorrer o trajeto. No fim de maio, ela apresentou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e tem formatura marcada para março de 2015. Antes disso, porém, já iniciou uma pós-graduação na área.

Da brincadeira à profissão 
O dia na propriedade na família Bett começa às 5h, quando o pai levanta para preparar o café. Às 6h, ele chama esposa e filha para compartilhar o desjejum. As duas vão para o estábulo tirar o leite e colhem as hortaliças do quintal. Às 8h30, a família segue ao mercado, na área urbana, para vender os produtos. Após o almoço, a rotina recomeça, desta vez para o pai, que vai cuidar do gado, atividade que ela gosta de observar.

Joana diz que, desde criança, gostava de acompanhar os pais nas atividades do campo. “Aprendi a tirar leite ‘à mão’ com 4 anos. Lembro de ir para o galpão ajudar minha mãe e de lá ficar olhando os pássaros grandes que vêm da Serra. É muito bonito quando eles se ‘amoitam’ na araucária. Também lembro de ir para a roça com meu pai no carro de boi tirar as pedras”, conta.

De outros agricultores, ouviu que não adiantava estudar. “Disseram-me que os melhores negociadores não estudaram, que tem que ter dom e que não adianta gramática se não se tem prática”, conta ela.

Na faculdade, mesmo em um curso relacionado ao campo, ouviu expressões que denotam preconceito. “Já fui chamada de ‘colona’ em tom pejorativo. Mas disse que sinto muito orgulho sim de ser ‘colona’ e faço questão de ressaltar minhas raízes, de dizer de onde venho”, rebateu.

Com isso, ela relata que são poucos os que desejam voltar para a casa dos pais ou ser empreendedores rurais. “Na minha turma, poucos realmente possuem essa ligação com o campo. A maioria pretende trabalhar em multinacionais, grandes fazendas ou seguir com mestrado e doutorado. “, conta.

Da teoria à prática 
Nem finalizou a universidade e Joana diz que já levou para a propriedade dos pais o conhecimento que adquiriu. “Tento auxiliar mostrando a importância da análise de solo. Estamos fazendo análise e correção em todas as partes cultivadas ou que possuem pastagem. Incentivo meu pai com relação a programas governamentais, faço um controle dos custos com a lavoura do milho, dou dicas com relação à sanidade do rebanho e da lavoura”, relata.

Em relação ao trabalho na cidade, sabe que há vantagens e desvantagens. “Na cidade, depois que você chega do trabalho, não tem mais que se preocupar. Mas quando você é dono, é 24 horas por dia na função. Quando se planta, não se tem certeza de que vai colher. Mas também é muito gratificante, vale por todo o trabalho, mesmo sendo incerto”, comenta ela.

Já iniciou uma pós-graduação na área de auditoria e gestão ambiental, uma de suas primeiras conquistas. “É uma área que não tinha pensado em trabalhar antes, mas que comecei a me interessar e acho que irá abrir muitas portas na minha vida”, finaliza, cheia de sonhos para viver sob a paisagem da Serra.

Fonte: G1

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