O Ministério Público deve decidir ainda nesta semana o que vai fazer em relação à denúncia de que ex-internos do Lar do Tio Duduco, em Florianópolis, teriam sofrido abuso sexual do dono do local, o ex-vereador e ex-deputado estadual Nilson Nelson Machado, o Duduco, 52 anos. O caso está na 4ª Promotoria Criminal de Florianópolis e baseia-se em um inquérito policial de 114 páginas apurado nos últimos quatros anos pela 6ª Delegacia de Polícia da Capital.
Nesta quarta-feira, o tema foi alvo de denúncia no Jornal do Almoço, da RBS TV. A reportagem traz o depoimento de quatro pessoas — três delas da mesma família – que afirmam ter sofrido abusos dentro da casa e uma ex-funcionária que confirma a denúncia, embora nunca tenha presenciado nada.
A investigação teve início depois que um homem de 28 anos procurou a polícia para denunciar o que aconteceu na casa ao longo dos 14 anos em que viveu lá. Os abusos, segundo ele, teriam começado quando ele tinha 13 anos e era chamado ao quarto de Duduco para lhe fazer massagem nos pés. Ao longo do tempo, os dois teriam dado início a um relacionamento. Outros internos e ex-funcionários também ouvidos pela polícia, porém, negam os fatos. A Polícia Federal chegou a se envolver no caso, mas a falta de provas impediu a continuidade da investigação.
Minutos após a exibição da matéria, quatro moradores do Lar do Tio Duduco – dois deles adolescentes – invadiram a casa de uma das mulheres que acusaram o ex-deputado na reportagem. Eles queriam tirar satisfação, mas o caso acabou em briga generalizada. Dois deles são irmãos de sangue dela. Os quatro foram ouvidos na Central de Polícia durante a tarde — os adolescentes foram apreendidos e encaminhados à 6ª DP, enquanto os adultos foram liberados, mas responderão a um termo circunstanciado.
Em um vídeo gravado pela advogada dos ex-internos e sem o conhecimento de Duduco, ele admite que manteve uma relação amorosa com dois ex-internos do Lar assim que eles completaram 16 anos — um deles é o denunciante e o outro nega qualquer tipo de abuso. O material foi acrescentado ao inquérito que está na 4ª Promotoria.
Outro procedimento, porém, também circula no MP. Na última terça-feira, a Vara da Infância e Juventude pediu a abertura de procedimento preparatório para apurar a real situação de risco e abuso das crianças, depois que a advogada Jackie Anacleto procurou o local para relatar a história.
Ao Diário Catarinense, Duduco preferiu não falar sobre o caso. Mas na reportagem da RBS TV, negou todas as acusações. Segundo ele, as denúncias são falsas e estão baseadas em interesses de pessoas com quem teve desentendimentos no passado.
— Algumas pessoas que tiveram desentendimentos comigo levaram isso às suas esposas e elas resolveram dizer besteira na Justiça. Quero mesmo que a Justiça me chame o mais rápido possível para esclarecer a verdade.
Duduco é figura pública em Santa Catarina. Foi eleito vereador por duas vezes – na última delas, o mais votado em Florianópolis – e uma vez deputado estadual.