Um dos lugares mais comentados e visitados de Santa Catarina durante os dias congelantes de inverno, o Morro das Antenas, em Urupema, é palco de estudos que buscam entender fenômenos naturais que, no Brasil, só acontecem por lá.
O responsável por decifrar os mistérios climáticos do Morro das Antenas é o geólogo paranaense Geraldo Barfknecht, de 55 anos, funcionário de uma empresa que presta assistência às plataformas petrolíferas da Petrobras no setor de engenharia de perfilagem e que há mais de três décadas dedica-se a pesquisar montanhas no mundo inteiro.
Geraldo define o Morro das Antenas como “o mais fantástico paraíso climático do Brasil”. Praticamente todo ano ele sai de Palmas (PR) ou Macaé (RJ), cidades nas quais passa a maior parte do tempo, e vai a Urupema, considerada a mais fria do Brasil.
Oficialmente, o topo do Morro das Antenas está a 1.750 metros acima do nível do mar, mas Geraldo defende que a altitude correta é um pouco menor, de 1.726.
Na atual onda de frio, Geraldo chegou ao Morro das Antenas às 18h de segunda-feira e enfrentou a congelante madrugada de terça no alto da montanha, com temperatura de -2ºC e sensação térmica de -10ºC, para realizar seus estudos. E apesar de o local ser seu velho conhecido, essa vez foi especial para Geraldo.
Na madrugada que passou, segundo ele, o Morro das Antenas registrou quatro fenômenos diferentes: chuva granulada, chuva congelada, neve e sincelo.
O geólogo garante que esse tipo de acontecimento é raro e, provavelmente, único no Brasil. Geraldo não tem conhecimento de outro lugar em que isso aconteça. Os que mais se aproximam são o Morro da Igreja, entre Bom Jardim da Serra e Urubici, e o Morro da Farofa, em Painel, ambos na Serra Catarinense.
O especialista em montanhas explica que o Morro das Antenas, que ele também define como Serra do Campo Novo, é a última elevação acima dos 1,7 mil metros de altitude no sistema divisor de águas dos rios Canoas-Pelotas.
A topografia muito acidentada com grandes depressões, o encontro de massas de ar polar e o cume plano e extenso, de aproximadamente um quilômetro quadrado, fazem do Morro das Antenas o palco ideal para a ocorrência do sincelo, mais raro dos quatro fenômenos e principal alvo dos estudos de Geraldo.
O geólogo explica que o Morro da Igreja, apesar de mais alto que o das Antenas —oficialmente, 1.822 metros, mas Geraldo defende 1.826 —, não tem as mesmas características por estar mais próximo da costa e, por consequência, das massas oceânicas, além de ter o topo muito estreito e pequeno em extensão, mesma condição do Morro da Farofa, também mais alto que o das Antenas, com 1.733 metros.
— Esse tipo de fenômeno é pouco estudado no Brasil, mas é certo que o Morro das Antenas é o único lugar do país onde o sincelo acontece com tanta frequência e intensidade — conclui Geraldo que, diante das dificuldades de obter patrocínio para lançar um livro sobre o assunto, planeja divulgar os estudos na internet para transmitir o seu conhecimento ao maior número de pessoas.
Como chegar no Morro das Antenas
Localizado a sete quilômetros do Centro de Urupema e a cerca de 190 do Centro de Florianópolis. Partindo da Capital, o caminho mais curto é seguir pela BR-282 no sentido Litoral/Oeste até o município de Rio Rufino, 60 quilômetros antes de Lages. Em seguida, deve-se seguir pela SC-112 (antiga SC-439).
Todo o trajeto é asfaltado. Da SC-112 ao topo do morro, o acesso é feito por uma estrada de chão batido de aproximadamente 700 metros.
Aos pés do morro está localizada a famosa cachoeira que congela em dias extremamente frios, e isso deve acontecer nesta quarta ou quinta-feira.
Diário Catarinense