A facilidade na comunicação e acesso a informações faz da internet um caminho sem volta, mas o uso cada vez mais intenso também tem consequências negativas, como o aumento de crimes virtuais. A incidência praticamente dobrou em Santa Catarina nos dois últimos anos, apontam dados da Secretaria de Segurança Pública. Até 30 de outubro deste ano foram registradas 1.641ocorrências — um crescimento de 93% sobre o mesmo período de 2011.
O percentual é muito superior ao número de pessoas que compraram pela internet pela primeira vez no Brasil nesse tempo — alta de 60%. Também é maior que o incremento do faturamento das lojas de e-commerce, cujo aumento foi de 50%. O fenômeno não é uma exclusividade catarinense e se repete em todo o Brasil, afirma Vasco Furtado, pesquisador de Computação Aplicada à Segurança Pública.
O crescimento no número de crimes virtuais é consequência da adoção de chips nos cartões de créditos. Eles ficaram mais seguros e os fraudadores que clonavam migraram para crimes virtuais, revela Eduardo Terra, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar). Mas engana-se quem imagina que as transações comerciais são os alvos da maioria das investigações.
Professor de Procedimentos de Investigação de Crimes por Meio Eletrônico da Polícia Civil, Daniel Hexsel conta que o principal motivo que leva as pessoas a registrarem ocorrências são os delitos contra a honra, como difamação ou calúnia. Na sequência, aparece o estelionato. Segundo Hexsel, as vítimas geralmente são pessoas que recém chegaram à internet e são enganadas por hackers que enviam e-mail falsos de bancos, da Serasa e dos Correios, entre outros órgãos e instituições. Os criminosos também continuam usando com sucesso a tática de mandar e-mails com um link que remete a supostas fotos de parentes ou traições de cônjuges. Ao clicar, o usuário instala um software que rouba as senhas e dados pessoais.
Os hackers têm mais sucesso com pessoas da nova classe média, ainda não acostumadas à internet. Hexsel relata que a Civil está investindo em transmitir técnicas de investigações em crimes virtuais. Ele lembra que 47 agentes receberam instrução e o cronograma prevê para dezembro o treinamento de outros 300.
A caminho dos smartphones
O aumento dos crimes virtuais tem impacto direto nas vendas pela internet porque as pessoas confiam menos em passar o número do cartão de crédito e os dados pessoais, afirma Vasco Furtado. Ele Acrescenta que uma mudança está em curso e os smartphones serão os próximos alvos dos hackers.
Ele conta que já existem golpes aplicados por estes aparelhos, mas que ainda são incipientes porque os celulares de última geração são caros e não estão disseminados em todas as classes sociais. Com o passar do tempo, o problema vai aumentar.
Presidente do Data Popular, consultoria especializada na classe C, Renato Meirelles considera normal a nova classe média ter receio de lojas virtuais. O mesmo comportamento ocorre em relação ao cartão de crédito e ao longo do tempo os consumidores se acostumarão com o sistema porque o futuro do comércio está na internet.
Mesmo com os crimes virtuais e o impacto negativo que eles têm no e-commerce, os negócios não param de crescer. A insegurança só acabará quando a geração de usuários da classe C que crescer conectada começar a ter poder de compra. A substituição deve terminar no final da década, quando deve diminuir o êxito dos golpistas.
Diário Catarinense