Em meio a tantas dúvidas ainda não esclarecidas em relação ao comportamento da nova cepa da gripe aviária, que tem 108 casos confirmados na Ásia, uma única certeza é suficiente para colocar o mundo em estado de alerta.
O H7N9 é um dos vírus mais letais entre as cepas conhecidas.
A informação divulgada ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS) se traduz nos números: em menos de um mês, um em cada cinco dos infectados morreu. O contágio entre aves e seres humanos é mais rápido do que o de outras cepas como a H5N1, que causou mais de 360 mortes em todo o mundo desde 2003.
Além do alto potencial letal, o alerta em relação a uma possível pandemia se intensifica em função da falta de clareza sobre a fonte de transmissão e pelo fato de as aves contaminadas não apresentarem sintomas claros, o que dificulta o controle.
— Por um lado, se sabe que grande parte dos infectados não teve contato com aves. Por outro, os testes ainda não conseguiram concluir se o vírus se transmite ou não entre humanos — afirma a consultora do Departamento de Influenza e Virologia Clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia, Nancy Bellei.
De acordo com a especialista, as pesquisas iniciais dão conta de que a única forma possível de o vírus chegar ao país seria por meio de uma pessoa infectada que viesse da China. Ainda assim, considera Nancy, os riscos de contágio seriam remotos, uma vez que a estirpe aparenta não ser transmissível entre pessoas. Pelo menos por enquanto.
— Como existem muitas variantes para um vírus, o potencial de uma cepa sofrer mutações e se adaptar ao mamífero, a ponto de ele ser capaz de transmiti-la, é completamente possível. Este é o grande perigo — explica o especialista em Virologia Cláudio Canal, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
No Brasil, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, informou que o país está atento em relação aos casos registrados. Segundo ele, até o momento, não há recomendação de restrição comercial com a China. O que permanece são medidas restritivas adotadas, desde 2006, nos portos brasileiros em relação à entrada de aves vivas provenientes daquele país.
— Vamos manter essa vigilância — destacou.
As autoridades de saúde em Taiwan comunicaram que o primeiro caso de H7N9 foi identificado em um homem de 53 anos, que trabalhou na cidade de Suzhou, no leste da China. Ele apresentou os sintomas três dias após ter regressado a Taiwan, passando por Xangai.
COMPARE OS DOIS VÍRUS
H5N1
Surto
Os primeiros casos de transmissão do vírus H5N1 de aves para humanos causaram a morte de seis pessoas em Hong Kong, em 1997. Em 2003, foi registrado o crescimento das incidências da gripe aviária.
Número de mortes
Desde 2003, o vírus matou mais de 360 pessoas no mundo, sendo transmitido de aves para animais
Área afetada
O vírus H5N1 foi detectado em países como Alemanha, Eslovênia, Grã-Bretanha, Turquia e em países asiáticos, como a China e o Japão
H7N9
Surto
Os primeiros casos foram registrados há menos de um mês, na China. Especialistas consideram o vírus H7N9 como um dos mais letais do mundo _ mata cerca de um em cada cinco infectados. Metade dos pacientes não teve contato com aves e pesquisas ainda não indicaram se o vírus é transmissível entre pessoas
Número de mortos
Desde as primeiras infecções, em 31 de março, 108 casos e 22 mortes foram registradas na China e no Taiwan.
Área afetada
Por enquanto, a maioria dos casos de H7N9 identificados está na área comercial de Xangai e províncias vizinhas no leste da China.
Bruna Scirea / Zero Hora