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Horacio Cartes é o novo presidente paraguaio

Em um dia ensolarado e com denúncias localizadas de anormalidade nas seções eleitorais, o Paraguai elegeu neste domingo o empresário Horacio Cartes, 56 anos, para a presidência do país.

As pesquisas de boca de urna indicavam desde cedo a tendência de que Cartes venceria o liberal Efraín Alegre (que no início da noite reconheceu a derrota), com vantagem de 10 pontos, menor do que a de levantamentos dos dias anteriores ao pleito. A Justiça Eleitoral confirmou, à noite: foram 45,9% a 36,8%.

Dados eram repassados pelos institutos à imprensa paraguaia sob a condição de que os números fossem divulgados, mas não os nomes dos candidatos. Os liberais recomendavam a seus seguidores que fiscalizassem a apuração e surgiam rumores sobre supostas ameaças de morte a Cartes.

O escritor e médico Alfredo Boccia Paz, um dos analistas políticos mais respeitados do país, já dizia, a Zero Hora, que a tendência era irreversível e que se sentia “surpreso” pela diferença pró-Cartes. Ressalvava, porém, que ela era compreensível:

_ São três motivos que levam a essa vitória mais folgada que o esperado. O primeiro é o aparato eleitoral do Partido Colorado no interior. Também contou a aliança de última hora do Partido Liberal com os oviedistas, o que pode ter lhe tirado votos. E há outro elemento: houve o voto útil da esquerda nos colorados, não tenho dúvida.

Por que votos da esquerda foram para o partido do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989) e que permaneceu 61 anos no poder sempre visto como a representação do conservadorismo?

_ Porque o Partido Liberal paga pela aventura de julho com o inferno de abril. Era aliado do ex-presidente Fernando Lugo e o traiu, no impeachment. O Partido Colorado apoiou os liberais nessa aventura, mas estava no seu papel, já era oposição. Sendo assim, ficou para os liberais, junto à esquerda, a imagem de traidores _ diz Paz.

O Partido Colorado retoma o poder paraguaio depois de ter sido desbancado pelo ex-bispo esquerdista Lugo, em um histórico rompimento de hegemonia. Agora, deve facilitar o retorno do Paraguai ao Mercosul.

_ É natural. Cartes até disse que a tão contestada entrada da Venezuela no bloco já é fato consumado.

Esse ponto de vista do analista, no entanto, não é unânime.

_ O Brasil vai ter que negociar. Vai dar sinais de normalização, mas não creio que Partido Colorado facilite, como se prevê. O paraguaio é orgulhoso, não aceitou que o país tenha sido suspenso do Mercosul. E também aproveitou a suspensão para aumentar contatos com países extrabloco, como Estados Unidos e China _ pondera Wagner Weber, presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai.

A presidente argentina, Cristina Kirchner, tuitou: “Seu lugar está ali no Mercosul junto a nós, como sempre.”

Entre os brasiguaios (como são conhecidos os 300 mil brasileiros radicados no Paraguai), Cartes era o candidato preferido. Alguns deles chegaram a fazer campanha pelo colorado.

_ Foi muito importante. Era o nosso candidato. Estamos esperançosos, ficamos mais tranquilos. Chegamos aqui com o Partido Colorado, e não havia problemas para nós. Espero voltar a viver com calma _ disse Neimar Schuster, 46 anos, 40 deles vividos na região paraguaia do Alto Paraná.

Além do presidente, cujo mandato é de cinco anos sem reeleição, os paraguaios escolheram 45 senadores e 80 deputados. Lugo foi eleito senador, 10 meses após sua destituição “por mau desempenho das funções”.

Um líder e suas polêmicas

Definir Horacio Cartes como novato na política é pouco. Ontem foi a primeira vez que ele votou em eleições presidenciais, apesar de o voto ser obrigatório no Paraguai. Presidente do clube de futebol Libertad e dono de 25 empresas, como um banco e fábricas de cigarros e de refrigerantes, Cartes se filiou ao Partido Colorado em 2009 e conseguiu modificar os estatutos partidários para se lançar candidato. Durante a campanha, teve de se dizer inocente de uma série de acusações, que vão de evasão fiscal a narcotráfico. O organismo conhecido como Mesa Memória Histórica, uma associação de vítimas da ditadura de Alfredo Stroessner, protestou, certa vez, por ele ter dito que o período repressivo foi de “ordem e progresso”. Em termos de costumes, Cartes definiu o casamento gay como “o fim do mundo” e disse que daria um tiro nos próprios testículos caso tivesse um filho homossexual. Sergio López, da ONG Somos Gay, lamentou a declaração. Afirmou que ele deveria, como candidato presidencial, ele deveria “zelar pelo bem de todos por igual”.

Desafio para o Brasil

Certamente, ao tomar posse, Cartes vai jurar com a mão sobre a constituição paraguaia, mas de olho também em outro volume, que remete a uma preocupação para o Brasil. Meses atrás, o atual presidente Federico Franco encomendou estudo da consultora Jeffrey Sachs que mostra o seguinte: a dívida paraguaia com o Brasil pela hidrelétrica binacional de Itaipu já está paga _ em tese, o Brasil teria de ressarcir o vizinho. Mais: o FMI prevê crescimento de 11% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significa mais necessidade de energia para a industrialização do país. Hoje, o Paraguai consome 5% da metade que lhe toca da energia gerada pela hidrelétrica. O restante é repassado de forma subsidiada para o Brasil. Em 2012, o consumo de energia elétrica no Paraguai era de 12 milhões de Mw/hora. Em 1994, de 2,3 milhões de Mw/hora. Além disso, Cartes tem dito que pretende aproveitar o bom momento economia para diversificá-la. Isso significa industrialização e consumo de energia.

Diário Catarinense

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