89,9 FM
SINTONIZE
(48) 3464-3364
LIGUE
(48) 99630-6000
MANDE WHATSAPP

Livro sobre tragédia na Kiss gera revolta em familiares e nova edição deve ficar pronta nesta quarta

Pouco mais de dois meses após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, que tirou a vida de 241 pessoas, um livro que chegou às prateleiras virou o centro de uma polêmica. Trechos da obra Kiss — Uma Porta Para o Céu provocaram indignação na associação dos familiares das vítimas e, após medida extrajudicial protocolada em cartório, o escritor retirou partes do texto. Os novos exemplares com as mudanças devem chegar nesta quarta-feira para venda.

De autoria de Lauro Trevisan, conhecido como padre Lauro, o livro lançado na semana passada causou revolta e uma reação por parte da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Na sexta-feira, o presidente do grupo, Adherbal Alves Ferreira, entrou com a ação extrajudicial pedindo a imediata retirada de circulação da obra. Um dia depois, o escritor emitiu um comunicado em que explica duas partes do texto que, segundo ele, foram mal interpretadas. Também anunciou uma nova edição do livro, sem os trechos polêmicos.

Mesmo com o anúncio da nova versão, a indignação dos familiares e o desentendimento entre os envolvidos não tem data para acabar. Para a associação, não basta fazer uma nova publicação sem as frases existentes nas páginas 5 e 11, onde estão citações como: “No auge da balada celestial, o Pai perguntou se alguém queria voltar. Dois ou três disseram que sim e foram encontrados vivos no caminhão frigorífico que transportava os corpos ao Ginásio de Esportes” .

— Queríamos sossego, respeito e, depois do livro, muitas pessoas me ligaram chorando por imaginar que seus filhos poderiam estar vivos. Com certeza, isso é fictício, mas causou comoção na cidade. Se ele não der uma resposta, vamos ter uma ação um pouco mais severa, que os advogados estão estudando — relata Ferreira.

Pai da estudante Jennefer Mendes Ferreira, 22 anos, vítima do incêndio, Ferreira comenta que o livro de autoajuda virou um “autoproblema”. Inicialmente, o autor disse que relatos teriam baseado o texto, mas, no comunicado de sábado, afirma que escreveu uma alegoria — “história ou discurso com personagens e acontecimentos simbólicos”.

— Nas primeiras seis páginas eu faço uma viagem imaginária. Não tem nada a ver com a realidade no caminhão frigorífico, isso aí é vontade de criar polêmica — diz o escritor.

Padre Lauro aponta três objetivos do livro: ajudar a confortar os que sofrem, reanimar Santa Maria e oferecer lições à humanidade. Ele argumenta que não será realizada a retirada de circulação da primeira edição do livro, ponto que é fortemente contestado pela associação. Além da repercussão, o escritor explica que a ação extrajudicial foi informada à editora, mas que a mudança foi “por livre e espontânea vontade” dele. Antes previstas para ocorrerem no começo de maio, uma palestra e uma sessão de autógrafos do livro na Feira do Livro da cidade foram canceladas. O autor diz que o motivo é uma viagem que fará à Europa nesta época.

Letícia Costa

Comente!

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.