Aproxima-se o inverno e um alimento torna-se indispensável na mesa do catarinense. Base de pratos fortes e quentes, o pinhão é bastante procurado na época mais fria do ano. Mas ainda que seja um produto silvestre e sua cadeia produtiva esteja longe da profissionalização, a famosa semente da araucária obedece, assim como qualquer produto, à lei da oferta e da procura.
Na safra que começou oficialmente nesta segunda-feira, a regra do mercado será posta em prática. E quem entende do assunto já avisa: vai faltar pinhão, e o preço vai subir. Não existem números oficiais sobre a produção de pinhão em Santa Catarina, mas é na Serra que se concentra o maior número de araucárias e, consequentemente, a maior quantidade colhida.
Estudos da Secretaria da Agricultura de Lages apontam que a média histórica por safra em toda a região é de 250 mil sacos de 50 quilos, o equivalente a 12,5 milhões de quilos, ou 12,5 mil toneladas. Mas neste ano, a previsão é de queda de pelo menos 40% na produção.
A explicação está na natureza, diz o engenheiro agrônomo João Antenor Pereira, extensionista da Epagri por três décadas e atual secretário da Agricultura de Lages. Como a araucária é uma planta nativa, que não é manejada e não recebe a interferência do homem, está sujeita à flutuação de produção entre uma safra e outra.
Observações empíricas no campo indicam que a árvore passa por ciclos de aproximadamente três anos, alternando volumes altos e baixos de pinhão. Isso acontece, segundo o agrônomo, porque a planta retira nutrientes do solo, como fósforo, potássio e nitrogênio. Com a baixa do nível dos nutrientes, a fisiologia da planta regula a produção. Depois, é necessário um período estimado em aproximadamente três anos para a situação voltar ao normal.
A atual safra é a segunda consecutiva com queda de produção. Dos 250 mil sacos colhidos em 2011, a quantidade caiu para 200 mil em 2012 e não deve passar dos 150 mil em 2013. A expectativa fica por conta de 2014, quando a colheita poderá ser ainda menor ou, totalmente ao contrário, recuperar a média histórica. Tudo dependerá do comportamento da araucária.
Além destas condições naturais do pinheiro, a atual safra foi prejudicada também por problemas climáticos ocorridos na última primavera na região, como uma geada tardia no fim de setembro — o gelo danifica as pinhas mais expostas ao sol — e uma estiagem de aproximadamente 45 dias entre outubro e dezembro — o pinhão não “enche” sem água. Ambos os problemas causaram a diminuição do crescimento e da quantidade da semente.
Queda de produção reflete no bolso do consumidor
Ao contrário do que se possa imaginar, a queda na quantidade a ser colhida não representa prejuízos aos produtores, justamente devido à lei da oferta e da procura e porque o pinhão é um alimento que dificilmente encalha nas prateleiras. Quem vai sentir no bolso é o consumidor.
O agrônomo João Pereira comenta que, no início da safra, o preço pago ao produtor gira entre R$ 2 e R$ 2,50 por quilo. No mercado, o valor chega a dobrar. Entre maio e junho, na alta colheita e com a maior oferta, o retorno do produtor cai para até R$ 0,80 por quilo.
Mas em julho e agosto, com menos pinhão, o valor volta a subir e pode até ultrapassar a casa dos R$ 3. E como neste ano haverá ainda menos produto disponível, não será de estranhar que, ao fim da safra, o consumidor encontre pinhão perto de R$ 10 o quilo em algumas regiões do Estado.
— Tem muita araucária que todo ano eu tiro até 50 pinhas e, agora, não tem nenhuma. Mas isso não preocupa, porque mesmo tendo pouco pinhão, o preço é bom. Eu chego a lucrar R$ 20 mil por safra só colhendo e vendendo pinhão —, diz Leandro Correia da Luz, de 23 anos, e que desde os 10 sobe em araucárias para colher pinhão em Painel, pequeno município da Serra Catarinense com 2,5 mil habitantes, distante 25 quilômetros de Lages e considerado — proporcionalmente ao seu território de 740 quilômetros quadrados — o principal produtor da semente no Estado.
Pablo Gomes / DC