Sistema prisional e de segurança mais que alerta. Os ataques iniciados em novembro do ano passado e que retornaram em janeiro deste ano são considerados para alguns servidores como uma prévia do temido 3 de março de 2013. Informações apontam que neste dia, o próximo domingo, os ataques seriam ainda mais intensificados. Mas porque 3 de março de 2013? É quando o Primeiro Grupo Catarinense (PGC), facção criminosa enraizada dentro das unidades prisionais do estado, completa dez anos de atuação, segundo o próprio estatuto.
“Pelas informações que temos, desde o ano passado, esse seria o dia dos grandes atentados. Estamos ainda mais cautelosos e esperamos que essas ações não ocorram por conta da transferência dos líderes. O problema é que o recado (Salve Geral) já pode ter sido dado antes, ou mesmo há muito tempo”, relata um agente penitenciário.
“Facção tem dois mil membros”
Informações da inteligência revelam que há cerca de dois mil detentos “associados” ao PGC em mais de 40 unidades prisionais de Santa Catarina. Os grandes líderes não chegam a contabilizar dez membros, com penas que chegam ou ultrapassam 100 anos de reclusão. Alguns, inclusive, com passagens por Criciúma.
Estuprador (chamado duque na cadeia) não é bem-vindo, assim como os chamados “caguetas” (delator, dedo-duro). Documentos já apreendidos pela polícia e por agentes prisionais apontam cobrança de dízimo que varia de 10% com o lucro obtido do crime ou R$ 100 mensais. Até o fechamento desta edição, foram 112 ataques somente este ano em todo estado em quase 40 cidades. Criciúma é a quinta colocada em número de atentados com seis ocorrências.
Detentos criciumenses participaram da fundação
A reportagem do jornal A Tribuna ouviu lideranças e especialistas no assunto a respeito da origem, fortalecimento e formas de combate da facção. Uma fonte, que preferiu não ser identificada, atuou por mais de uma década no Departamento de Administração Prisional (Deap), estando à frente, inclusive, de cargos relevantes na pasta. Segundo ele, a facção começou no Complexo Penitenciário do Estado (Cope), em São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.
“Era para São Pedro de Alcântara que eram transferidos todos os presos que desestabilizavam o sistema e apresentavam problemas nas unidades de todo estado, incluindo criciumenses que participaram da fundação. Assim o grupo foi se criando. O primeiro nome dado foi “Família”, que não deu certo. Novamente mais uma tentativa com o “Amigos da Família”, que também não vingou. Depois houve contatos de presos catarinenses com o Primeiro Comando da Capital (PCC)”, explica.
Como a massa carcerária catarinense tinha ciência das ações do PCC em São Paulo, criou-se certo respeito e admiração dos criminosos pela facção paulista. Havendo a junção, deu início ao PGC, sigla que muitas autoridades não pronunciam por defender que a divulgação do nome dê status e poder para a facção. Até a própria secretária de Justiça e Cidadania (SJC), Ada de Luca, em entrevista ao jornal A Tribuna, contou que não concordou com a negativa de existência do PGC do Governo antes dos ataques.
A fonte preservada ligado ao Deap conta que a facção foi criando força por conta da ineficiência do Estado. “Eles sabiam que um grupo estava se articulando e que seria nos moldes de facções de São Paulo e do Rio de Janeiro, só que não agiram, viraram as costas e o resultado está ai”, critica.
Ex-secretário diz que ataques seriam em 2010
Atualmente na corregedoria do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em Florianópolis, o delegado André Luis Mendes da Silveira, tem experiência no assunto. Como secretário de Segurança Pública nos últimos anos (atualmente quem responde é César Grubba), a autoridade policial, foi uma das poucas, senão única a admitir publicamente a existência do PGC e tomar medidas juntamente com o sistema prisional.
Silveira defende o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) como uma das formas de combate a facção, ou mesmo uma vigilância mais enérgica nas unidades prisionais de Santa Catarina. Ele não concorda com a opinião de alguns especialistas que acreditam que a transferência de detentos para unidades federais fará com que voltem ainda mais perigosos após adquirir outros contatos e experiência. “Ora, já tivemos presos de facções de outros estados em Santa Catarina, e vice-versa. Assim como são ensinados, eles também passam ensinamentos. Isso não é desculpa e não é caso isolado em Santa Catarina”, diz.
Trabalho integrado de inteligência
O delegado e ex-secretário de Segurança Pública, que atuou em um momento crítico em Santa Catarina com onda de assaltos e furtos, principalmente na Capital em 2010, revela que os atentados iam ocorrer naquele mesmo ano. “Essa informação foi levantada e de imediato os presos foram transferidos para a Penitenciária Sul, que tinha um controle mais rígido. Também houve operações em conjunto para cumprimento de mandados de prisão para pessoas que supostamente seriam usadas como braços da facção. Muitas ações foram desarticuladas por conta do trabalho integrado de inteligência de todos os setores. Há ainda muita vaidade”.
Silveira diz que a separação da Secretaria de Justiça e Cidadania da Secretaria de Segurança Pública também é um problema. “Todas as informações de segurança, tanto das polícias como do sistema prisional, devem ser em conjunto ou repassadas em conjunto para todo mundo atuar de forma integrada. Na minha gestão lembro que todo sistema tinha informações de detentos em saídas temporárias que pudessem servir como braços para o PGC. O IPEN, uma ferramenta do sistema penitenciário, deve ser mais aproveitada. Nela consta toda movimentação do preso, incluindo visitas de advogados. Há advogados, por exemplo, que visitam detentos que nem são seus clientes. Com o IPEN é possível mapear as situações do sistema”, expõe.
Tráfico e assalto como moeda
E foi à frente da Secretaria de Segurança Pública que o delegado enfrentou criticas dos comandos, das polícias Civil e Militar da época, em relação à divulgação da sigla. “Quando se esquece do problema ele ganha força. Foi o que aconteceu com o PGC. O Estado negava, logo então, a polícia também freou com as ações contra o grupo. Esquecerem e eles se articularam. Tem que quebrar a espinha dorsal. O tráfico de drogas e o roubo devem ser combatidos porque serve de moeda de pagamento e de reestruturação da quadrilha, para pagar drogas, armas e advogados”, opina.
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