De uma conversa entre amigos, nasceu um abaixo-assinado virtual que já superou 1,5 milhão de assinaturas pedindo o impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Em um bate-papo regado a cerveja, o representante comercial Emiliano Magalhães Netto, 26 anos, ouviu que Renan voltaria a comandar a Casa mesmo após o envolvimento em denúncias de corrupção e decidiu lançar o movimento que pede a saída do peemedebista:
— Pô, a gente ficou p… ficamos indignados com essa atrocidade, com como nos fazem de palhaço — lembra ele.
Embora o abaixo-assinado já tenha sido acolhido por quase o dobro do número de eleitores que escolheram Renan para senador por Alagoas (ele recebeu 840 mil votos em 2010) o documento não tem validade legal.
A Constituição e o regimento interno do Senado só admitem a hipótese de impeachment do presidente em caso de quebra de decoro parlamentar ou se o senador não comparecer a um terço das sessões deliberativas.
Impedido de colocar na prática a sua ideia, Emiliano se contenta em mobilizar a sociedade para a causa e tentar gerar constrangimento entre os senadores que elegeram, no dia 1º de fevereiro, Renan para o cargo. Porém, o representante comercial admite que não acompanha o noticiário e se diz desiludido com a política.
— Acompanho as notícias por cima… Estava muito desacreditado com a política. Tenho acompanhado agora e, a cada dia que passa, aparece um novo caso de corrupção — justifica o jovem.
Dias antes da eleição de Renan para a presidência do Senado, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, protocolou denúncia contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF). O alagoano é acusado de ter praticado falsidade ideológica, utilização de documentos falsos e peculato (crime cometido por servidor público que se apropria de dinheiro ou qualquer bem a que tenha acesso em razão do cargo). O caso se originou em 2007, quando ele teve de deixar a presidência da Casa após suspeitas de ter despesas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior. O STF não estabeleceu prazo para julgar o caso.
Presidente afirma que a mobilização é “saudável”
A ideia de Emiliano é levar as assinaturas ao Senado, mas o autor da petição admite que ainda não sabe como viabilizar a entrega. Para isso, conta com a ajuda da Avaaz, entidade que hospeda petições online de causas espalhadas pelo mundo. Mesmo sem conhecer em detalhes as denúncias contra Renan, ele acredita que a campanha é um sucesso.
— A opinião pública sabe que é errado ele estar lá — resume.
Na tarde da sexta-feira, Renan divulgou uma nota sobre o abaixo-assinado. No documento, o parlamentar afirma que “a mobilização na internet é lícita e saudável, principalmente, entre os jovens”.
O presidente do Senado lembrou que já foi líder estudantil e interpretou a petição como uma preocupação da sociedade com “um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos”.
ENTREVISTA
Emiliano Magalhães Netto, Criador da petição contra Renan Calheiros
“Nossa ideia é expressar a revolta”
Um representante comercial de Ribeirão Preto, que afirma não ter pretensões políticas, é o líder do movimento online que pede a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do cargo. Emiliano Magalhães Netto, 26 anos, diz que se inspirou no impeachment de Fernando Collor.
Zero Hora — Como surgiu a ideia de criar um abaixo-assinado contra o presidente do Senado?
Emiliano Magalhães Netto — Eu não estava sabendo da notícia da eleição dele. Um amigo levantou a questão sobre o que eu achava do presidente ser o Renan. Aí, eu falei: “nossa, acho um absurdo, acho que ele não vai ser eleito porque tem problemas com a Justiça, os outros senadores não vão querer abraçar a causa”. Eu achava isso. Aí, meu amigo me deu a notícia, disse que ele foi eleito de novo. Ficamos p… da vida.
ZH — Por que fazer um abaixo-assinado para destituir Renan Calheiros do cargo se não há viabilidade legal para isso?
Emiliano – É mais uma expressão de indignação com a corrupção. Renan foi o caso do dia, foi a causa que eu levantei. Acredito que o abaixo-assinado despertou a população em relação à falta de competência e de respeito com que os políticos agem. A questão do impeachment foi inspirada no Collor. A gente pensou: “quando o povo tirou alguém?” e pensamos nele. Não chegamos a pensar na questão da legalidade, mas a nossa ideia é expressar a revolta.
ZH — O que vocês pretendem fazer com essas assinaturas?
Emiliano – A minha ideia é levar ao Senado, para que ele escute a voz do povo e vamos ver o que ele tem a dizer sobre isso. Todo mundo que tem acompanhado a causa tem me questionado: “e agora?” Então, agora, a gente juntou esse tanto de gente, está todo mundo falando nisso e concordando e vamos ver como conseguir isso. A Avaaz está me ajudando a ver o meio de levar isso ao Senado.