Um detento de Santa Catarina escreveu à Vara de Execuções Penais de Joinville, Norte do estado, para permanecer preso durante as saídas temporárias. Na carta, ele explica que não tem onde ficar e, por isso, prefere permanecer na unidade prisional, conforme mostrou reportagem do Estúdio Santa Catarina de domingo (24).
A carta do detento foi endereçada ao juiz de Direito da Vara de Execuções Penais de Joinville. “Venho por meio desta solicitar ao juiz João Marcos Buch a suspensão do restante das minhas portarias, no caso a saída temporária, pois não tenho local fixo para as minhas saídas temporárias”.
O detento Pedro Paulo da Cunha está preso há quatro anos. “É claro que lá fora é melhor. Mas como eu disse a você: na situação que eu estava, na situação que eu estou, é aqui dentro”, explicou. Da última vez que pode ficar uma semana livre, Pedro voltou antes. Só passou uma noite fora da prisão, em uma casa abandonada. “Esticava um papelão e deitava”, resumiu.
Por causa do crime que cometeu, um estupro, a família nunca quis visitá-lo na cadeia. O idoso não é aposentado e não tem como se manter fora da cadeia. Preso, ele trabalha e ganha R$ 1,2 mil. “Quando eu sair daqui, como é que eu vou ficar? Se eu não tenho um centavo! E a minha família não tem como me ajudar”, afirma.
Prisionalizado
A criminologia chama a situação do apenado não querer sair da cadeia de sujeito prisionalizado. “Isso que tem que ser avaliado. Porque, por melhores que sejam as unidades prisionais, como é que o Estado está trabalhando o retorno dessa pessoa pra sociedade? Porque uma hora essa pessoa vai retornar”, afirmou o juiz.
Quando chega o dia de um preso ser solto, ele tira aquele uniforme e sai vestindo só a roupa do corpo, geralmente a mesma que usava no dia da prisão. Ele é trazido para o fórum, assina alguns papéis e, em seguida, está em liberdade. Faz isso sozinho, caso não tenha nenhum amigo ou parente que o ajude nesse começo de uma vida nova.
“É aí que o Estado está faltando muito mais. Em um amparo, um apoio, com uma casa do egresso, com um encaminhamento. As pessoas saem sem saber onde é o ponto de ônibus”, disse o juiz. “Tudo mudou e elas saem sem saber absolutamente nada do que está ali fora
e, muitas vezes, acaba acontecendo isso, nem querendo sair”, finalizou.
G1