A quase 3 mil quilômetros de casa, o chileno Juan Ignacio Molina, 20 anos, sentiu o coração apertar na tarde de terça-feira. E não tinha nada a ver com distância, país desconhecido ou idioma diferente. A compaixão que sentiu ferver pelo corpo vinha da forma como viu e conheceu a situação das 60 pessoas que vivem nos prédios da Orionópolis Catarinense, em São José — todas deficientes físicas ou mentais abandonadas pela família ou retiradas dela por maus-tratos. Nesta terça ele só olhou, mas a partir desta quarta-feira ajudará tudo o que pode.
Juan é um dos 20 jovens peregrinos que estão em Florianópolis desde segunda-feira à noite, para atividades preparatórias à Jornada Mundial da Juventude. O trabalho voluntário junto à Orionópolis é a principal delas e segue, diariamente, até sexta. O grupo com jovens de diferentes nacionalidades está hospedado no Colégio Catarinense, e todos são seguidores e simpatizantes dos ensinamentos do jesuíta Santo Inácio de Loyola, mesma ordem do papa Francisco.
— São cenas fortes e estou me sentindo impotente. Esse tipo de coisa sempre choca, independente do lugar onde se está. Espero ajudar muito e aprender mais ainda — conta.
Além do grupo, outros 507 estrangeiros ainda devem desembarcar na Grande Florianópolis até o fim da semana. Hoje chegam 47 alemães e, na sexta, um francês e 459 argentinos. Todos com o mesmo objetivo: conhecer a realidade brasileira na forma como ela é. Segundo o arcebispo da Capital, Dom Wilson Tadeu Jönck, todos os peregrinos terão, basicamente, três momentos dentro da programação geral: celebração e oração; visitas a obras sociais; e conhecimento da realidade e da vida nas cidades.
— Muitos deles nem são religiosos. Mas estão sensibilizados e querem descobrir como vivemos a fé de forma concreta por aqui, não apenas na Igreja ou em oração. Eles querem partilhar seus conhecimentos e suas vivências com o que vão encontrar aqui.
Foi o que se viu na terça-feira. Para chegar à Ponta de Baixo, onde está a Orionópolis, os jovens fizeram o que fariam qualquer morador da Capital: percorreram a pé a distância entre o Colégio Catarinense e o Terminal Cidade de Florianópolis e, de lá, esperaram cerca de 45min até a chegada do ônibus que faz a linha diária até lá. O roteiro será o mesmo até sexta.
— Isso permite a eles vivenciar tudo o que se passa por aqui. Eles vão andar por onde o povo anda e da forma como anda e vão sentir as mesmas dificuldades que eles sentem — explica o professor Afonso Luiz Silva.
Pluralidade de orações em Santa Catarina
Na Grande Florianópolis, cerca de 100 famílias catarinenses abrigarão os jovens vindos para a Semana Missionária.
Um grupo de 15 estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) irão acompanhar, como voluntários, os mais de 500 jovens recebidos pela Arquidiocese a partir desta quarta-feira.
No grupo que está hospedado no Colégio Catarinense, não há tradutor. Mas a estudante baiana Paloma Almeida, 19 anos, passou de participante peregrina para tradutora oficial do grupo. Tudo o que é falado, ela traduz para o inglês e os franceses traduzem para a malgaxe, a freira vinda de Madagascar, que não fala nenhum outro idioma.
Os jovens peregrinos serão divididos em grupos durante a semana, mas no sábado a programação deve reuni-los em duas celebrações. Em cada uma (Governador Celso Ramos, pela manhã, e Nova Trento, à tarde), cerca de 4 mil hóstias devem ser distribuídas. A estimativa é que, só de Santa Catarina, 10 mil jovens participarão da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.
Sâmia Frantz / DC