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RS quer mudar produção de leite no estado

O secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul (Seapa), Luiz Fernando Mainardi, disse que o governo gaúcho deve propor um novo modelo de produção do leite no estado, eliminando os intermediários na cadeia produtiva. A medida evitaria adulterações no produto como a revelada na quarta-feira (8) pelo Ministério Público.

Segundo as investigações da operação Leite Compensado, empresas responsáveis pelo transporte do leite cru adicionaram água e ureia – substância que contém formol, um elemento químico cancerígeno – para aumentar o volume do produto. Vários lotes de leite de quatro marcas foram considerados impróprios para o consumo (confira aqui a lista).

“Nós temos que criar uma legislação que obrigue a indústria a fazer o transporte do leite, que seja de sua responsabilidade. Na nossa avaliação, o produtor só poderia emitir nota fiscal diretamente para a indústria e não mais para o intermediário. Assim elimina o intermediário, que é quem está fazendo a fraude”, disse o secretário Mainardi ao G1.

De acordo com o titular da pasta, tanto o produtor rural quanto a indústria de laticínios têm responsabilidade sobre a qualidade do leite produzido no estado e com a saúde do consumidor final, o que não ocorre com os intermediários. Mainardi destacou ainda que o caso é exceção e que tanto a Seapa quanto as entidades que integram a Câmara Setorial do Leite fiscalizam e monitoram permanentemente a qualidade do produto.

Em nota, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do estado (Sindilat/RS) disse que condena a adulteração do leite e que há meses acompanhava, em sigilo, as investigações do MP. Para o Sindilat, as indústrias foram “prejudicadas” pela fraude. O MP, no entanto, alega que as indústrias têm responsabilidade sobre o problema, pois seus processos de controle de qualidade não detectaram a alteração na matéria-pria.

A operação do MP resultou na prisão de oito pessoas suspeitas de envolvimento na adulteração, interdição de três postos de refrigeração e de um laticínio. Cinco transportadores que seriam os responsáveis pela fraude foram identificados e pelo menos 10 caminhões apreendidos. Até a noite de quarta-feira (8), dois suspeitos já haviam sido liberados e um seguia foragido. A suspeita é de que o esquema possa ter adulterado até 100 milhões de litros nos últimos 12 meses.

Segundo a Seapa, a empresa responsável pelo LatVida, localizada no município de Estrela, foi notificada na quarta-feira (8) que está proibida de produzir e comercializar todos os produtos derivados de leite. A produção de leite UHT integral, desnatado e semidesnatado já havia sido suspensa na indústria desde 1º de abril, quando a adulteração foi comprovada, mas a empresa manteve a produção mesmo após a suspensão, diz a secretaria. As marcas Mu-Mu, Italac e Líder também tiveram lotes de leite adulterados.

Fiscalização detectou  alterações

O Ministério da Agricultura emitiu nota técnica para explicar como foi detectada a fraude. De acordo com o Ministério, desde 2007, há fiscalização periódica por parte do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para atestar a qualidade do produto. A partir de junho de 2012, o SIF começou a detectar a presença de formaldeído nas amostas de leite cru em alguns postos de refrigeração no estado.

No início deste ano, o laboratório do Mapa em Pedro Leopoldo (MG) confirmou a presença da substância em seis lotes da marca Italac pertencente à Goias Minas, em Passo Fundo. A partir deste resultado, foram coletadas amostras de todos os leites UHT produzidos no Rio Grande do Sul. Foi encontrada adulteração em lotes das marcas Líder e Mu-Mu.

As investigações apontam para adição de ureia agrícola no leite cru, com o formaldeído acrescido por fazer parte da composição do produto. A adulteração tinha como objetivo aumentar o volume com água e tentar manter os padrões do leite. A Superintendência Federal de Agricultura no RS concluiu que a fraude não ocorria nas indústrias, mas nos transportadores, que só podem ser fiscalizados quando estão nas indústrias ou nos postos de resfriamento de leite.

De acordo com a nota, alguns transportadores atuam de forma independente e negociam o volume e o preço do leite entre os produtores e as indústrias. A remuneração ocorre por volume e não por quilômetro rodado.  A investigação mostra que as indústrias não sabiam da fraude. No entanto, segundo o MP, teriam falhado ao não detectar o esquema no controle de qualidade.

A orientação dos promotores é que os consumidores deixem de beber o leite de lotes específicos de fabricação. O Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindlat) emitiu nota em que condena a adulteração e relata que acompanha a investigação desde o início. “Todos os lotes identificados com problema foram retirados do mercado e não se encontram mais à disposição do consumidor. Os estoques disponíveis no varejo estão aptos para o consumo humano”, afirma a nota.

O que dizem as empresas

Mu-Mu
Em nota, a empresa afirmou que “atende a todos os requisitos e protocolos de testes de matéria prima exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”. No texto constam outros esclarecimentos: “A investigação do Ministério Público está concentrada no transporte entre o produtor leiteiro e os postos de resfriamento, onde o produto fica armazenado antes da entrada em nossa fábrica. A empresa permanece à disposição do MP e MAPA, no que for solicitado”. A Mu-Mu também informa aos consumidores que tenham produtos do lote citado ou que tenham dúvidas entrem em contato com o SAC, pelo número 0800 51 7542, de segunda a sexta, das 7h30 às 18h30 e, aos sábados, das 7h30 às 13h30.

Latvida
Em contato com o G1 por telefone, a empresa Latvida informou que está operando normalmente. Segundo a assessoria de comunicação, a ação é direcionada exclusivamente aos transportadores do leite no estado. Em relação a esse aspecto, a marca disse que “está sendo eficiente até o momento”.  A Latvida ainda afirmou que o problema ocorreu no lote 196 do leite UHT desnatado e que todos os outros estão liberados para o consumo. “Estamos vendo essa ação do MP com naturalidade. Nossos laboratórios funcionam 24 horas por dia e temos um laboratório móvel que percorre as regiões dos 1,6 mil produtores que temos no estado”, disse o assessor de comunicação da empresa, Paulo Pereira.

Italac
Em e-mail enviado no início da tarde, a Italac informou que “o problema foi pontual, ocorrido no Rio Grande do Sul, e aconteceu no transporte do leite cru, entre a fazenda e o laticínio, antes de ser industrializado”. Ainda segundo a nota, “os lotes identificados com problema foram retirados do mercado e não se encontram mais à disposição do consumidor. Todo o leite Italac encontra-se em perfeitas condições de consumo com total segurança e qualidade”.

Líder
A empresa diz ter retirado do mercado ainda em fevereiro deste ano o lote não recomendado para o consumo, “tão logo a companhia tomou conhecimento da possibilidade de existir um problema de qualidade”. A nota diz que cinco transportadoras de leite cru foram descredenciadas e um dos postos de resfriamento no estado foi fechado “por causa da ação de fraudadores”. “Além disso, a Líder faz dupla checagem, nos postos de resfriamento e na fábrica, e desde janeiro não detectou nenhuma adulteração no leite destinado à produção. O leite Líder disponível no mercado está apto, portanto, para ser consumido com segurança”, diz a empresa.

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